sábado, 14 de maio de 2011

Quanto tempo permaneceu Jesus na sepultura?

A ressurreição de Jesus Cristo representa a pedra angular da fé cristã. Este tema é tão importante que Paulo, escrevendo aos coríntios, dedicou um capítulo inteiro para falar sobre ele.

A ressurreição de Jesus Cristo representa a pedra angular da fé cristã. Este tema é tão importante que Paulo, escrevendo aos coríntios, dedicou um capítulo inteiro para falar sobre ele. Resumidamente, quero destacar cinco pontos enunciados pelo apóstolo ao falar em I Coríntios 15 sobre a veracidade da ressurreição:

Se não há ressurreição:



1. então Cristo não ressurgiu (vers. 13),

2. a fé é inútil (vers. 14),

3. o testemunho apostólico é falso (vers. 15),

4. os crentes ainda estão em seus pecados (vers. 17),

5. e são as mais infelizes criaturas (vers. 19).



Portanto, é fato certo que Cristo ressurgiu dos mortos, principalmente porque houve mais de quinhentas testemunhas oculares que confirmaram isto (I Co 15:6).

Sabemos, pelo relato dos quatro evangelistas, que Jesus ressuscitou no domingo pela manhã. Sobre este assunto há plena concordância por todos os comentaristas dos evangelhos. Porém, uma questão que tem sido motivo de polêmica é sobre quantos dias esteve Jesus na sepultura. Analisaremos as palavras do próprio Jesus ao falar sobre a sua ressurreição:

“Desde então começou Jesus a mostrar aos seus discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muitos dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia” (Mt 16:21)



“Ora, achando-se eles na Galiléia, disse-lhes Jesus: O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens; e matá-lo-ão; e no terceiro dia ressuscitará” (Mt 17:22,23)



“É necessário que o Filho do Homem padeça muitas coisas, e seja rejeitado dos anciãos e dos escribas, e seja morto, e ressuscite no terceiro dia” (Lc 9:22)



“Jesus respondeu, e disse-lhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei”. (Jo 2:19)



Vemos em todas estas declarações, proferidas pelo próprio Jesus, que ele ressuscitaria ao terceiro dia. Paulo também afirma o mesmo em I Co 15:3-4, que o Senhor ressuscitou ao terceiro dia.

Vejamos agora o relato dos quatro evangelistas ao narrar o episódio da ressurreição:

Mateus: “E no fim do Sábado, quando já despontava o primeiro dia da semana, Maria Madalena e outra Maria foram ao sepulcro...” (Mt. 28:1)

Marcos: “E passado o Sábado, Maria Madalena, Salomé e Maria, mãe de Tiago, compraram aromas para ungi-lo. E, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro, de manhã cedo, ao nascer do sol” (Mc 16:1,2)

Lucas: “E, no primeiro dia da semana, muito de madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que tinham preparado, e acharam a porta do sepulcro removida” (Lc 24:1,2)

João: “E, no primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra tirada do sepulcro.” (Jo 20:1)



Notamos que todos são unânimes quanto ao momento da ressurreição: ela se deu ao domingo, pela manhã. Sendo ele sepultado na sexta-feira, à tarde, cumpri-se o que o Senhor predisse de que ele ressurgiria ao terceiro dia. Os judeus, na época do Novo Testamento, contavam os dias desde o sair até o por do sol, dividindo-o em 12 horas (Jo 11:9). Da mesma forma, a noite era dividida em 12 horas, e em quatro partes, chamada de vigília. Portanto, do por do sol até o outro por do sol, soma-se um dia de 24 horas, conforme conhecemos hoje. Era costume ainda contar como um dia todo, qualquer evento que acontecesse em qualquer parte do dia.

Jesus foi sepultado antes do por do sol da Sexta feira (1 dia), ficou o sábado todo na sepultura (1 dia) e no domingo, logo ao amanhecer, já estava vivo (1 dia). Portanto, concluímos que Jesus esteve três dias na sepultura e duas noites apenas. Impossível negar isto, visto que foi testemunhado e registrado por escrito, sem haver qualquer contradição, pelos escritores, quanto a este assunto.

Se, como notamos pelos textos acima, que o espaço de tempo de Jesus na sepultura foi de duas noites e três dias, como explicar, a declaração dada em Mat. 12:40? Vejamos esta mesma passagem narrada por Mateus e por Lucas:



“38 Então, alguns escribas e fariseus replicaram: Mestre, queremos ver de tua parte algum sinal.

39 Ele, porém, respondeu: Uma geração má e adúltera pede um sinal; mas nenhum sinal lhe será dado, senão o do profeta Jonas.

40 Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra.

41 Ninivitas se levantarão, no Juízo, com esta geração e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está quem é maior do que Jonas.

42 A rainha do Sul se levantará, no Juízo, com esta geração e a condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis aqui está quem é maior do que Salomão.” (Mt 12:38-42)



“29 Como afluíssem as multidões, passou Jesus a dizer: Esta é geração perversa! Pede sinal; mas nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas.

30 Porque, assim como Jonas foi sinal para os ninivitas, o Filho do Homem o será para esta geração.

31 A rainha do Sul se levantará, no Juízo, com os homens desta geração e os condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis aqui está quem é maior do que Salomão.

32 Ninivitas se levantarão, no Juízo, com esta geração e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está quem é maior do que Jonas.” (Lc 11:29,32)



Lendo com atenção as duas passagens, notamos uma significativa diferença: ambas falam do mesmo episódio, porém Lucas não menciona as palavras descritas em Mt. 12:40; no lugar delas, ele diz que o “Filho do Homem seria um sinal” para aquela geração, assim como Jonas foi um sinal para a geração dele.

Notamos que, o que está sendo usado em por Mateus em Mt. 12:40 é uma figura de linguagem. Figura de linguagem é uma palavra ou uma expressão usada em sentido imaginário, não literal. Embora a Bíblia deva ser interpretada literalmente, é importante lembrarmos que, à semelhança de outros livros e documentos, ela contém figuras de linguagem que devem ser interpretadas segundo seu sentido figurado, segundo o propósito para que foram usadas. Por isso, é importante discernir as figuras de linguagem para obter uma boa interpretação bíblica.

Vamos ver qual figura de linguagem usada por Mateus e interpretar o seu significado. Há duas figuras que podemos tirar desta passagem: a comparação e a analogia. Na comparação, as semelhanças são reais, sensíveis, expressas numa forma verbal própria, em que entram normalmente os chamados conectivos de comparação – como, quanto, do que, tal qual, etc. Na analogia as semelhanças são apenas imaginárias. Por meio delas, tenta-se explicar o desconhecido pelo conhecido, o que nos é estranho pelo que nos é familiar, por isso, esta figura tem grande valor didático. Sua estrutura gramatical inclui com freqüência expressões próprias da comparação – como, tal qual, semelhante a, parecido com, etc.

Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra



As expressões assim como e assim sugerem que está sendo utilizado o recurso da comparação ou analogia nesta passagem. Vamos analisá-la com mais profundidade:



Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe


assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra



elemento conhecido elemento desconhecido



Vemos que Jesus utiliza-se de um fato conhecido pelos judeus (o episódio de Jonas no ventre do peixe) para explicar algo ainda desconhecido ( a sua ressurreição). Jonas no ventre do peixe era um fato real, do conhecimento de todos os judeus. Assim, Jesus utilizou-se deste evento para falar de algo que estava para acontecer. E para que isto causasse impacto em quem estava ouvindo, era necessário utilizar uma linguagem que pudesse atingir seus ouvintes. Afirmar que ele estaria três dias e três noites no seio da terra, da mesma forma como Jonas esteve este mesmo tempo no ventre do peixe, era algo que atrairia a atenção dos seus ouvintes. Se Jesus utilizasse de uma outra expressão, tal como “assim como Jonas esteve no ventre do peixe, assim o Filho do Homem estará no coração da terra”, não causaria tanto impacto. O milagre consiste em uma pessoa passar todo este tempo enterrado e voltar vivo.

Na analogia, para que as duas coisas confrontadas produzam efeito, o elemento comparado desconhecido deve ter as mesmas características do elemento comparado conhecido.



Jonas = Elemento conhecido, Jonas no ventre do peixe

Jesus = Elemento conhecido, Jesus na sepultura e conseqüente Ressurreição



Jonas & Jesus = Ponto de ligação entre ambos, 3 dias. A semelhança entre os dois episódios está no tempo



Portanto, conclui-se que, Jesus ao falar que passaria três dias e três noite dentro da terra, ele não o fez no sentido literal, mas como um recurso de oratória para fixar este conceito na mente do seu ouvinte.

A única coisa que podemos afirmar com certeza sobre este assunto, é o que os narradores do evangelhos contam, o que o próprio Jesus testemunhou sobre sua ressurreição e o que os profetas do Velho Testamento profetizaram: que Jesus ressuscitou ao terceiro dia, totalizando, na nossa contagem de tempo, o período de duas noites e três dias.

E para que não fique dúvida de que está sendo utilizado por Mateus uma figura de linguagem e não um fato que realmente aconteceu, vou transcrever abaixo mais algumas versões do mesmo versículo, em outras línguas, em que vamos notar que todas trazem um conectivo que indica que está sendo utilizado um elemento de comparação (analogia) entre dois eventos diferentes:



“For as Jonah was three days and three nights in the belly of the huge fish, so the Son of man shall be three days and three nights in the heart of the earth”

Versão King James (inglês)



“Porque como estuvo Jonás en el vientre de la ballena tres días y tres noches, así estará el Hijo del hombre en el corazón de la tierra tres días y tres noches.”

Versão Reina-Valera, 1909 (espanhol)



“Poiché, come Giona stette nel ventre del pesce tre giorni e tre notti, così il Figlio dell'uomo starà nel cuore della terra tre giorni e tre notti”

Versão La Sacra Bibbia Nuova Riveduta (italiano)




“sicut enim fuit Ionas in ventre ceti tribus diebus et tribus noctibus sic erit Filius hominis in corde terrae tribus diebus et tribus noctibus”

Versão VULGATA: Jerome’s Latim Vulgate (latim)





“Car, de même que Jonas fut trois jours et trois nuits dans le ventre d'un grand poisson, de même le Fils de l'homme sera trois jours et trois nuits dans le sein de la terre.” Versão Louis Segond (francês)









Fontes Pesquisadas:



Garcia, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna, 17ª edição, Editora FGV, 1998

Jr, Albert A Bell. Explorando o Mundo do Novo Testamento, 1ª edição, jun/2001,

Editora Atos

Mounce, Robert H. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo -Mateus, Ed. Vida,

São Paulo: 1996

Michaels, J. Ramsey. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo – João, Ed. Vida,

São Paulo: 1994

Tasker, R.V.G. MATEUS, Introdução e Comentário. Série Cultura Bíblica, Edições

Vida Nova, 1ª edição, 1980

Bruce, F.F. JOÃO, Introdução e Comentário. Série Cultura Bíblica, Edições Vida

Nova, 1ª edição, 1987.

Estudos Bíblicos, Casa Publicadora Brasileira, Santo André, SP, 1979

Biblia de Referência THOMPSON, Editora Vida, 1993

Bíblia On-line – versão 2.01, Sociedade Bíblica do Brasil

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